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As transformações do Agro brasileiro
23/12/2024 - Por marco lorenzzo cunali ripoliAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
Fatores como a transição energética, a transformação digital, a renovação geracional e a inclusão feminina já são realidade e projetam um futuro brilhante para o Agro brasileiro.
Brasil: a “Arábia Saudita” da energia sustentável
Em 2025, o agronegócio brasileiro caminha aceleradamente em direção a uma matriz energética ainda mais limpa. Para manter-se competitivo e alinhado com as exigências dos mercados internacionais, o Brasil tem investido celeremente na produção de biocombustíveis, energia solar e biomassa, aproveitando subprodutos da própria produção agropecuária. Por exemplo, o reaproveitamento de dejetos suínos e resíduos da cana-de-açúcar para gerar energia limpa não só reduz as emissões, mas também transforma estes resíduos em valor dentro do conceito da economia circular.
Nos últimos sete anos, quando se deu início a produção de etanol de milho no Brasil, 22 usinas já foram construídas, somando uma produção anual de mais de 6 bilhões de litros. Essas usinas que consomem cerca de 12,5% da produção total de milho do país, refletem a capacidade empreendedora do Agro brasileiro. Dentre essas 22 unidades, 10 operam no modelo Flex, utilizando tanto milho quanto cana-de-açúcar para produção de etanol – numa configuração única no mundo.
Com o Programa Combustível do Futuro o mix de etanol na gasolina que está em 27,5% deverá ser elevado para 30% 2030. Além disso, neste momento já existem mais de 15 novos projetos aprovados para usinas de etanol de milho, trigo, sorgo, que somadas as usinas de cana (436 unidades) consolidam o país no maior produtor de biocombustíveis do mundo.
Paralelamente, o setor de biodiesel também tem relevância no Brasil, com 51 usinas em operação e uma produção de aproximadamente 7 bilhões de litros por ano. Essas unidades já absorvem cerca de 20% da produção nacional de matérias-primas, como a soja entre outras matérias-primas.
Atualmente a mistura de biodiesel no diesel está em 14% (B14) e deverá aumentar gradativamente até o 20% (B20) em 2030, segundo o Programa Combustível do Futuro.
Também no campo da energia solar e eólica, o Brasil se torna uma referência na incorporação da energia solar e eólica no campo, especialmente em regiões como o Centro-Oeste e o Nordeste, que apresentam alta incidência solar. Isso equivale atualmente a geração de energia de mais de 5 usinas Itaipu.
Por outro lado, o combustível de aviação sustentável (SAF) tem se destacado como uma das alternativas mais promissoras para reduzir a pegada de carbono do setor aéreo. Produzido a partir de fontes renováveis, como óleos vegetais, resíduos orgânicos e até mesmo resíduos sólidos urbanos, o SAF permite uma redução significativa nas emissões de gases de efeito estufa, podendo diminuir em até 80% as emissões de CO² em comparação ao querosene de aviação tradicional.
De acordo com o Arturo Barreira, CEO da Airbus para América Latina, o Brasil pode se tornar líder mundial na produção de SAF, alcançando a marca de 50 bilhões de toneladas nos próximos anos. Isso coloca o Brasil como a futura “Arábia Saudita do SAF”.
Finalmente, o hidrogênio verde, produzido principalmente a partir de etanol poderá ser uma solução viável e exclusiva brasileira à descarbonização do setor automotivo.
Um Salto para a Eficiência e a Conectividade no Campo
A transformação digital no campo é essencial para a sua competitividade, principalmente possibilitando o uso pleno da tecnologia já disponível.
Atualmente estima-se que existam mais de 200 empresas fornecedoras de drones e sensores, além de 400 plataformas de gestão de dados no Brasil atuando na maximização da eficiência na aplicação de insumos, redução de desperdícios e uso racional de recursos, como água e fertilizantes.
A agricultura de precisão reduz significativamente o impacto ambiental, um diferencial que atende a exigências de sustentabilidade de mercados internacionais. Tecnologias para monitoramento de solo, clima e doenças de forma preditiva permitem que o Brasil entregue produtos agrícolas com maior qualidade e rastreabilidade, agregando valor para exportação.
Com a chegada da Starlink e sua rede de mais de 3.400 satélites de baixa órbita trouxe avanço revolucionário ao destravar a conectividade mesmo nas mais remotas áreas rurais do Brasil.
Rejuvenescimento do Agro: Um Milagre Brasileiro
Diferentemente de muitos setores da economia no Brasil e no Agro mundial, que enfrentam dificuldades em atrair jovens talentos e sofrem com o envelhecimento da força de trabalho, o agronegócio vem revertendo essa tendência, onde a idade média dos trabalhadores do setor é de 46 anos – a mais baixa entre as grandes potências agrícolas. Em comparação, a média de idade no setor agrícola dos Estados Unidos é de 58 anos e, na União Europeia, chega a 62 anos.
Esse rejuvenescimento no agro brasileiro decorre da atração que a tecnologia exerce sobre o jovem, que por sua vez, traz junto consigo, centenas de startups que por meio do desenvolvimento de algoritmos e outras soluções digitais tornarão o setor mais competitivo no futuro.
Inclusão Feminina: Outra Realidade Brasileira
A relevância do papel das mulheres em qualquer atividade é inquestionável. Um exemplo disso, é a realização do Congresso Nacional de Mulheres no Agro (CNMA), que nas suas últimas edições alcançou mais de 3.000 congressistas vindas de todos os estados brasileiros.
Grupos de afinidades nas redes sociais são frequentemente encontrados entre cooperativas, organizações de classe e principalmente de forma informal, unidos apenas pelo desejo de troca de experiências, engajamento, maior protagonismo e defesa dos interesses do agro.
Por fim, outro exemplo bem-sucedido, é o movimento “de olho no material escolar”, que está reparando os textos tendenciosos sem embasamento científico encontrados nos livros didáticos do ensino fundamental em todo o País.
Como exposto acima, esta estruturação consistente do Agro com investimentos em tecnologia, sustentabilidade e gestão profissional consolidará o Agro brasileiro nos próximos anos como o mais importante do mundo para a produção de alimentos, fibras e energia.
O Agro não para!
Marco Lorenzzo Cunali Ripoli, Ph.D. é Engenheiro Agrônomo e Mestre em Máquinas Agrícolas pela ESALQ-USP e Doutor em Energia na Agricultura pela UNESP, fundador do “O Agro não Para”, proprietário da BIOENERGY Consultoria, Diretor da PH Advisory Group e investidor em empresas. Acesse www.marcoripoli.com
Paulo Renato Herrmann é CEO da PH Advisory Group e FIERGS. Acesse www.grupopha.com.br